Sindicalista influencer
Você conhece algum sindicalista que seja referência no ambiente digital?
O termo “influencer” está na moda. Na moda, na alimentação, na cultura, no esporte, no direito, no entretenimento, no marketing, na culinária, na política, nos investimentos, na nutrição… Para todo lado em que olhamos, há pessoas que se destacaram em uma área e, com isso, conseguiram construir reputação e capacidade de convencimento. O fenômeno é típico de época atual, da internet 2.0 e das redes sociais. A facilidade de produção de conteúdo, graças à democratização de equipamentos e ferramentas, e de publicação desse conteúdo, com inúmeras plataformas e formatos, tem dado voz a muita gente.
Para muitos, a febre “influencer” trata-se de um modismo. Para outros, a tendência é irreversível – cada vez teremos mais pessoas usando a internet para firmar-se em algum “nicho”, estabelecer sua autoridade e, naturalmente, faturar com isso. Certamente é preciso separar o joio do trigo. Pelo próprio caráter livre das redes, “tem de um tudo” nesse universo. Sim, há oportunistas, picaretas, pessoas com conteúdo “raso” que só almejam auto-promoção e dinheiro fácil. Há quem só quer explorar seus dotes físicos pra surfar na “trend” e gravar “publis”. Há quem “venda” apenas futilidade e entretenimento sem originalidade. Mas há também muita gente séria, que desenvolve conteúdos de qualidade, fruto de vivência, pesquisa e trabalho, que ajudam outras pessoas em diversas áreas.
A bem dizer, a busca do ser humano por “autoridades” – especialistas confiáveis em um assunto – não é novidade. Sempre precisamos de orientação na vida, por motivos diversos. A diferença é que antes esses especialistas estavam nos livros, nas palestras, nas consultorias, em programas de TV… e hoje estão no Youtube, no Instagram, no Twitter.
Pesquisas recentes em diferentes setores mostram que a maioria dos consumidores acredita mais no fator social (amigos, família, seguidores do Facebook, e do Twitter) do que nas comunicações de marketing.
Philip Kotler, especialista em Marketing
A publicidade já descobriu a força dos “influencers” atuais, com marcas que gastam mais em ações coordenadas com influenciadores do que com propaganda tradicional. É fácil entender por quê. O influencer “fala de igual pra igual”, ou seja, é “gente como a gente”, muitas vezes com maior capacidade de convencimento do que um comercial criativo e super bem produzido. Além disso, a mensagem chega desavisadamente, entre um reels e outro, atingindo-nos muito mais do que a publicidade no intervalo da TV – e, com isso, tornando-se mais “inevitável”.
Hoje, o processo de formação de opinião passa necessariamente pelos influencers. Quanto mais tempo passamos nas redes, mais somos atingidos por conteúdos diversos. A maneira como cada um penetra em nossa mente depende de muitos fatores: nosso interesse pelo assunto, nossa pré-disposição para concordar com aquele ponto de vista, a qualidade da oratória do influencer, seu currículo, o número de seguidores, de curtidas, de comentários…
Como exemplo, podemos citar o brasileiro Felipe Neto, que despontou para a fama produzindo entretenimento para adolescentes. Com o amadurecimento dos últimos anos, ele passou a se interessar por política e se posicionar sobre diversos temas sérios. Nas eleições presidenciais de 2022, teve uma atuação intensa, provocando debates e certamente influenciando milhares de seguidores.
E no universo sindical? Existe sindicalista influencer?
A identificação da presença e da força de influencers em muitas áreas nos leva à pergunta: existem no Brasil influencers quando o assunto é sindicalismo? Se sim, quem são? Você que é do ramo: segue alguém que seja referência em movimento sindical, direitos, gestão e relacionamento com trabalhadores e patrões?
Se não há ninguém, ou se os que existem têm pouco alcance, fica a constatação: há aí uma lacuna a ser preenchida. Falta sindicalista influencer. E não pense que o assunto é “sério demais” para ser tratado no ambiente predominantemente fútil e informal das redes sociais. Sim, o sindicalismo pode – deve! – estar em todos os lugares. É justamente disso que ele precisa: de alcançar muita gente, inclusive quem inicialmente não demonstra interesse no assunto.
A formação cidadã, a discussão política mais ampla (para além dos processos eleitorais), a consciência de classe, tudo isso precisa atingir a população, não devendo ficar restrito às assembleias de trabalhadores e ao ambiente acadêmico. A ágora – praça onde ocorriam as grandes discussões na Grécia Antiga – agora está na palma da nossa mão, na tela do smartphone. Por tudo isso, cabem às lideranças sindicais ocuparem fortemente esse espaço, principalmente porque ele já está ocupado, e cada vez mais, por “desinfluencers” – desinformadores que, para fazer prevalecer suas preferências político-ideológicas, criam e propagam mentiras e análises enviesadas.
A força do vídeo
Nessa perspectiva, precisamos ressaltar a importância da linguagem audiovisual na formação de opinião. Atualmente é consenso entre os profissionais de comunicação e marketing que conteúdos em vídeo geram mais engajamento e alcançam mais pessoas. Por mais que um texto escrito como esse tenha seu valor, o impacto do som + imagem em movimento é inegável. Por isso, para se tornar uma referência no universo sindical, o candidato a influencer precisa dominar minimamente a linguagem audiovisual. Isso significa ter uma boa oratória, boa dicção, texto adequado ao formato (com clareza, simplicidade, coesão, didática, redundância quando necessário) e atenção a aspectos técnicos como qualidade da imagem, iluminação, áudio e cenário. Também são importantes o uso de recursos de edição como lettering (texto na tela) e efeitos (quando pertinentes), além de atenção quanto à duração dos vídeos e frequência de publicação.
Não é fácil, mas vale a pena se o objetivo é atingir muita gente e conquistar o interesse e respeito do público. As pessoas estão em busca de referências, de pessoas em quem confiar, e vídeos em que o influencer mostra seu rosto são muito valiosos nesse sentido, porque demonstram segurança e domínio do assunto. A construção da reputação passa necessariamente pela projeção da imagem. Vale lembrar que, quando se atua em um segmento muito específico, como o sindical, o objetivo não deve ser conquistar milhões de seguidores, e sim ganhar a confiança de quem tem real interesse no seu conteúdo, sejam dezenas, centenas ou milhares de pessoas.
E você? Já pensou em ser um sindicalista influencer?
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